segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Dia 06 nova publicação

Voltamos a programação normal a partir de janeiro, com novos textos. Dia 06 tem nova publicação.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A vida de Taciana 2

Ás vezes é bailarina, ás vezes branca de neve, mas gosta mesmo é de ser Taciana. Poderia ser Alice, e se perder atrás do coelho, mas seu bichinho é tão pacato, não parece nem um pouco atrasado. Caminhando gordo pelo jardim, na beira da piscina, passando as horas sem pressa. E a menina também, escolhendo quem ser, tranquila, ainda  tem um bom tempo pra se decidir. Muito está fora de cogitação. Caminha de mão dadas à mãe, entra na piscina com o pai. Conta as flores do canteiro, tem vida para se surpreender com a beleza das pequenas coisas. Deixa o tempo passar e mesmo assim ele rasteja, dá-lhe um empurrão mas ele continua seu passo preguiçoso. Não acredita nas desilusões que vai ter, nos amores que perderá. Só pensa que o coelho podia ser mais gentil. Antes pudesse enfeitiça-lo com sua flauta, mas o máximo que consegue é incomodar os vizinhos. Mas ninguém reclama. Devem saber que isto seria por pura inveja do tempo de sobra, de ter um Coelho, uma flauta e uma piscina.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Culpada

Eu não queria? Sabia bem que aquilo não acabaria bem. Uma garota esperta sabe dessas coisas. Nem precisava ter um terceiro olho para isso. Então, como explicar tanta dúvida assim? A princípio era simples: "eu quero" ou "eu não quero". Mas estava ali sem saber. Pra mim seria um momento, e isso era tranquilo, mas pra ele o custo seria mais alto, o significado mais sublime. 

Então... Seria minha dúvida sobre justiça? Seria justo com ele? Se ele ainda fosse tão bonito quanto carinhoso, tão homem quanto amigo... Meu corpo ferveria mais vezes e talvez não houvesse indecisão. Mas ferver uma vez, sentados no sofá é permitido? Lógico. Mas ele entenderia? De todo modo, também não é minha culpa, acho que é por causa da música, do tempo, do carinho... E ele então?! Me levara a uma rua sem saída, eu já era dele naquela altura. Eu já sabia disso. E ele também sabia, por mais ingênuo que fosse. Aquele filha da puta! Isso que dá me deixar verificar como faz um livro. Ele me conhecia. Sim, aquele instante era premeditado. Oras... Então, a escolha foi dele e não minha. Como poderia me culpar?

Passaríamos a vida inteira ali e quem sabe ainda assim não chegaria a uma boa conclusão sobre o assunto. Em busca de algo que me absolvesse encontrei suas mãos. Seu toque na minha perna era prenúncio, era desarme, era a decisão que não pude fazer sozinha. Ninguém mais viu, mas eu resisti. Com forças curtas é verdade.  Ninguém viu, mas eu não queria. Ele não era meu tipo. Ninguém viu quando assim mesmo eu quis, irremediavelmente e de maneira incontestável.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O mistério da marca verde


Um grande mistério está sempre por acontecer em Guiratinga. Naquela tarde fui me ter com um daqueles bem cabeludos. Nada como bons investigadores para revelar o que, por Deus, seria aquela imensa mancha verde, em forma de cabeça, marcada na poltrona do meu pai. Minha mãe, que nada sabia de investigação, foi logo dizendo que era a cabeça do meu pai e a ação do sol, uma antecipação que não levava em conta o fato mais evidente: meu pai não tinha a cabeça verde. Ingenuidade de mãe. O que poderia ser então? Quem poderia ter deixado aquela marca? Possivelmente o culpado seria alguém que se sentou ali e encostou a cabeça no repouso. Coisa fácil de intuir, embora dava para brincar que se tratava de uma grande dedução ala Sherlock Holmes, certos momentos permitem quase qualquer licença poética. Me juntei com meus amigos policiais, tão astutos e comprometidos com a causa quanto eu. Pronto, agora éramos três, imbatíveis como da vez que batemos no grandão da escola (o que se trata de outra história e consta aqui só para preparar terreno para a hora desta). Destemidos e curiosos. Cobrimos cada milímetro da sala que ficava quase no fundo da casa. A tv, a vitrola, o carpet encardido. Os discos do meu pai não pareciam conter nada de estranho, a não ser o disco do Kaoma. Restava  uma vista no entorno da casa, um grande terreno baldio, que entre outras coisas interessantíssimas, estava plantada nossa goiabeira. E lá, a prova que finalmente revelaria o caso. Um ferro entortado. Como não pensamos nisso antes? Ninguém seria capaz de fazer aquilo com pedaço tão servido de metal. Ninguém que tivesse força humana. Então... Cabeça verde, força descomunal... Não havia mais dúvidas, só podia ser o Hulk.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Sobre fila, morte e vida


Caminhava lentamente pelo calçadão da XV. Não dá prá dizer que saboreava o caminhar, pois era tanta gente junto que o percurso exigia alguma atenção, se é que se quisesse não esbarrar com ninguém. Via que ali a vida tinha duas dimensões que se contradiziam. Por um lado era vida viva, barulho e movimento. Pessoas comprando, pessoas vendendo, trocando o mostruário, gritando as melhores ofertas ou o cardápio do dia. Artistas de rua fazendo centavos, de moeda em moeda, como favores baratos. Alguns paravam, observavam, sorriam, a maioria passava. Os furtos bem encaminhados, o boneco dançando sozinho, o povo dançando conforme a música da cidade. Nem o sinal vermelho pára o calçadão, em que pese que os carros apressados param, pois a rua é soberana, diga o que disser as regras de trânsito. A coisa toda acontecia ali, naquele trajeto reto dos Correios à Ozório, porém tortuoso no complexo vai e vem de quem caminha sem querer topar. Vida, urbana, mas vida, e tanta vida sempre tem de esconder um pouco de morte, pensou enquanto se matava de prazer com um cigarro porcaria. Tanta gente fazendo a mesma coisa. Todos os dias. Seguindo o mesmo trajeto reto ou tortuoso, cruzando a mesma fonte, o mesmo bonde, as mesmas galerias. Comendo nos mesmos restaurantes mal cheirosos. Como pode sermos tão iguais, tão previsíveis quando se olha de longe? Todos vão sempre aos mesmos lugares, consomem as mesmas coisas, caminham sobre o mesmo chão cansado de ser pisado. A mesma conversa mole, o mesmo desejo mórbido pelo que nunca vai ter. Igual... Seria esse o preço a se pagar por viver em conglomerados? Ser forçado a andar pelo trilho disponível? 
Finalmente, após alguns minutos de vida e morte, chegara à Ozório, era o que denunciava as árvores, a feira itinerante, no entanto, a revelia de ter finalmente chegado à praça, não chegara a nenhuma conclusão confortável. Continuou sua caminhada até a próxima fila.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Poesia que mata


O cara pensava na menina, dia sim, dia não. Às vezes em espaços de tempo maiores. Há algum tempo ela tinha uma existência intermitente, nos intervalos da vida real, aparecendo do nada e sumindo na conveniência, no exato momento de deixar antever o que passava em seu desejo. Por vezes ele se sentia como um astrônomo, observando o cosmos, surpreendendo-se pelos fenômenos desconhecidos, o que é próprio do campo do outro, este ser por detrás de uma cortina de enganos. Na maioria das vezes se sentia um idiota, entretido com a perfeição do impossível, capturado por alguns devaneios, amarrado a um copo de cana e sustentado por um careta entre os dedos. Antes pudesse escrever alguns versos. Aprisioná-la num conjunto de letras, tapar-lhe a boca com suas palavras, apenas as rimas certas para que tudo ficasse bem. Para que tudo fosse como ele sonhou. Assustou. Seu ódio surpreendia tanto quanto seu amor. Aquilo seria matá-la, tirar dos seus atos a surpresa, o sorriso enigmático. Era um crime, ainda que fosse tentador. Abriu os olhos do devaneio e tudo continuava igual como sempre. Felizmente, e isso o confortava tanto quanto o infligia, poesia não era seu forte.



segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O monstro da criança

   Era noite... Er... É, definitivamente era noite. Eu estava de frente para a casa, a goiabeira a minha direita, mais precisamente a garagem se mostrava na direção do meu nariz. Podia ver lá no fundo o muro que delimitava o espaço da casa, a área de limpeza e a dispensa. Não havia ali uma alma viva e era essa justamente a preocupação, isto é, que houvesse ali alguma alma solta do corpo. Aquela mesmíssima cena já havia ocorrido uma dezena de vezes, sempre tudo não passava de uma impressão ruim. Daquela vez havia algo estranho. Não saberia dizer exatamente o quê. Posicionei meu olhar matreiro para aquele corredor fantasmagórico. Um vento vindo do nada varreu o chão levantando uma poeira e fazendo dançar uma sacola de supermercado que estava por ali. A tensão ia aumentando pouco a pouco, minha respiração já se ocupava de oxigenar o corpo, como que preparando cada músculo para um possível perigo. Porém a garagem, o fundo da casa e tudo o mais continuavam como sempre.
   Eis que dando-me conta de quantas vezes aquilo já havia ocorrido, percebi que possivelmente havia ali um exagero da minha parte, e talvez o perigo era meramente coisa da minha cabeça (o que naquela circunstância nada significava) e por fim, não aconteceria algo diferente mais uma vez. Poderia continuar a sonhar, quem sabe um daqueles sonhos em que se voa, sempre agradáveis.
   Naquela noite não podia estar mais errado. Do corredor traseiro da casa surge a alguma altura do chão a criatura assustadoramente esperada, e ele sim voando, num rasante deslizando-se em minha direção. Nessas horas é preciso correr. Saí dali em direção a porta da casa. Não foi sem surpresa que observei que por ali estavam alguns membros da minha família, e é claro nenhum com a mínima disposição para me ajudar naquela situação pavorosa. Continuei rumando para dentro da casa, na esperança cega e alienada de quê do lado de dentro havia segurança. Nunca saberia, pois ao puxar a grande porta de metal, finalmente a criatura que por tantas noites não dera a cara, me agarrou antes que eu colocasse os pés para dentro, e me lançou para fora da casa, para fora do sonho, para fora. 
   Nunca mais estive naquela situação, quem sabe porque a criatura estava satisfeita com seu susto final, em como deixara a criança apavorada e como não dera chances ao garoto. Seu rasante perfeito e direto. Sua garra precisa. É... Talvez isso, ou simplesmente por que agora, eu que ainda tinha dúvidas naquela noite, não podia mais negar a existência do meu monstro e a dolorida solidão com que se é obrigado a lidar com o dito cujo.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Bendito

  Como deixar bem dito? Aquilo que não se pode simplesmente dizer, seja por vergonha, coerência ou bom senso. Seja por dor, amor ou impedimento legal. As palavras tem sua própria lei, seus próprios limites, ainda que amplamente esticáveis. O velho escritor pousou o copo de água e abriu seu novo computador, desses que dá pra levar na pasta. Havia aprendido a usar com a dificuldade das pessoas desinteressadas, e unicamente por esse motivo demorou certo tempo para aprender a ligá-lo. Só vencera o desinteresse por que sua Olivetti Valentine estava com um defeito irrecuperável, o barulho dela incomodava em demasiado sua senhora, ela gritava do quarto, "cala-te esse diabo vermelho, por Deus". O casamento é mais importante, então, teve que se arriscar nas novas tecnologias. Quanto a seu aprendizado tortuoso, recusava-se a culpar a idade, subterfúgio da tantos outros amigos.  Ele poderia aprender quase qualquer coisa que quisesse... Conhecia o segredo das palavras e isso dava alguns passos de vantagem contra qualquer adversário. Apesar de tudo isso, era da sua boca que saía aquela pergunta. Como deixar bem dito?  Tal questão o perseguia com a voracidade de uma besta, não uma qualquer, mas uma com o poder de se transformar no decorrer do tempo para sempre preservar sua essência. Antigas questões devem ter um fim?
  Apertou os olhos na última frase que escrevera. Sentiu o coração palpitar. Enrubesceu. Será que finalmente era aquilo? Seu corpo começou a estremecer, quis gritar sua esposa, quis pular de alegria. Finalmente a fera que o perseguia parecia ter ficado para trás. Leu novamente, eram palavras simples e dispostas de maneira clara, porém no que uma tocava a outra, com seus significados, algo incrível se materializava. Aquilo que o velho sempre queria ter dito. E da maneira como gostaria. Tudo perfeito. Levantou ligeiro com todo o seu corpo uivando. Tombou sobre seu laptop esparramando a água e despedaçando a máquina no chão. Quando sua mulher chegou até o escritório quis gritar e chorar, o que seria esperado, mas o semblante do seu homem, deitado no chão inerte, a confortou.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A maldição do terceiro olho

    Todo dia ao abrir os olhos ela não podia resistir á insistência do destino em se fazer revelar, como um quadro nítido o futuro se desnudava diante da sua vista. Mas só as partes mais negras. Isso podia bastar, afinal, não é todo o saber que se pode sonhar? A chance de evitar o que havia de pior. Pular o caminho da dor. Salvar vidas como um herói. Ela corria contar, mas todos, presos demais ao chão que lhe sustentam não podiam crer nas palavras dela, por medo ou fraqueza, não importa. Cidades dizimadas por pragas vorazes e vinganças naturais. E eles riam. A morte dura e fora de hora das pessoas amadas. O sinal da Cruz pra deixar aquilo pra lá. Não importava a mazela que saía dos seus lábios, simplesmente não podiam acreditar. A moça viu seu poder tornar-se opaco, de que adianta seu terceiro olho se não podia convencê-los, se nada podia fazer com isso? Por fim entendeu que se tratava de uma maldição e não de um dom. Deus não é culpado de facilitar as coisas. Restava viver sabendo da desgraça que preenche os intervalos da vida e sofrer na sua espera.
   
   Certo dia abriu os olhos e, como sempre... Soube. E dessa vez era do seu destino que se tratava, o dele e o dela. Riu delirantemente triste, imaginando a reação. O que ele iria dizer? O que ele iria fazer quando soubesse?
    
   Contou na espera que alguém finalmente acreditasse nela, tinha de ser ele.
  
  Olhos nos olhos revelou que naquela manhã havia visto, com a costumeira clareza, que jamais dividiriam uma febre, jamais misturariam seus cheiros e suor, nem por um dia sequer. Ela nunca o teria sobre seu corpo ou o veria retirando suas roupas delicadamente e com amor. Seus sabores ficariam velados um para o outro, para sempre. O destino já apartara seus corpos num motim traiçoeiro e não havia o que se fazer.
Ao terminar nada se ouvia que não fosse a respiração de ambos. Ele não riu. Não fez sinal da Cruz. Focou a pupila dela e a sua doce aflição. Suspirou. Mas naquilo ele não podia acreditar.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Preto

Filho de pai branco e mãe negra. Nasci branco. E fui ficando negro. Atingi o máximo da minha negritude sob o sol da capital cuiabana. E embranqueci de novo sob as nuvens da capital curitibana. Já escutei que sou preto, negro, moreno, que não sou negro, que não sou da cor de um pneu, que sou cor de cuia. E até que sou branco... É verdade. Tá lá na minha certidão de nascimento. Gosto de rock, gosto de samba. Misturo rock com samba. Sonho em dançar capoeira. Casei com uma branca de olhos azuis esverdeados, ou verdes azulados.
Na infância tive três irmãos, um preto e dois brancos. Um ainda por cima era Alemão. Apenas o preto dividia a mãe e o pai comigo. 
Se me perguntam sou negro sem pensar muito. Mais por posição política. Por que não se pode perder a oportunidade de lutar uma batalha dessas. Aguardo o tempo em que essa resposta não seja relevante tanto quanto no fundo não é. Tenho histórias de preconceito em várias gerações da minha família. Por isso me forço em direção à guerra, freqüentemente abismado com a necessidade dessa luta. E se há uma guerra não me furtarei de escolher um lado. Minha cor? Oras, Preta.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Gabriela sem graça

Olha que cara mais fechadinha, e pensava eu que tinha um show por trás dessa cortina. Talvez até tivesse, mas nunca descobriria. A história do meu primeiro amor é nitidamente uma história de duas vias. Eu imaginava, ela existia, e nada tinha de parecido as duas versões de menina.  Cabelos castanhos escuros, bochecha de criança, parecia uma adulta. Sem graça, sem doce, parecia ter vindo a passeio. A gente brincava, se sujava, gritava como crianças, ela sempre limpinha demais, quieta como uma vasilha. Nada mais desinteressante. Não quis disputar uma só prova da gincana, imagina recusar uma corrida do ovo? Quem sabe o bingo, a Nana é quem chama as pedras, ela sabe ser divertida, ledo engano, sentada continuava a menina.
Eu, criança que era, ainda desconhecia como a perfeição é uma faca de dois gumes, a Gabriela era tão perfeitinha, tanto mais, que até a beleza ela perdia. Hoje vejo a imagem, fica velado o segundo depois na fotografia, e neste há sempre a possibilidade de ter sido sorriso, porém quebro a expectativa, a cara continuou fechadinha.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A vida de Taciana

Como deve ser boa a vida da Taciana. Senta no balanço, dá um grito. Gira pelo universo, visita as estrelas num pra lá e pra cá simplesmente. E o barulho indica a falta de óleo, escuto de longe, em seguida dá mais um grito. Como deve ser boa a vida da Taciana, nessa ilha de prédios uma bela casa, coisa que entrará em extinção. E transborda a excitação, dá mais um grito, leva um grito da mãe.
Bom mesmo é quando faz calor e o pai limpa a piscina. Do verde escuro ao azul mais ou menos. Lança-se na água, respinga nos parentes. Soltou um grito antes de afundar. Taciana vai levando as coisas, vai soltando gritos. Enquanto o pai faz churrasco, corre pelo jardim. Taciana não sente nenhuma vontade de crescer, ou disfarça bem demais. Dá um grito e corre para os braços da mãe. Como deve ser boa a vida da Taciana, cheia de detalhes, de sons estridentes e ilusões.
Um dia Taciana irá crescer, ir para longe do jardim, da piscina, dos domingos de churrasco. Os gritos, no passado tão livres, tal qual fossem criminosos condenados, estarão no fundo da prisão da goela. Donde estou não poderá haver silêncio ainda assim. Quem sabe o barulho dos carros, com sorte o barulho da chuva. Río sem graça pensando em quando isso acontecer. É provável que eu que sou um tanto incoerente e reclamo do barulho, quem sabe me entristeça, aponte as orelhas para a janela do apartamento... É, quem sabe, ao não escutar nenhum vestígio de Taciana, eu até escute a falta gritar.   

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Uma noite no pantanal


Era noite, o vento varria as planícies, aquelas que em momentos do ano ficavam cobertas de água, invisíveis aos olhos do homem. A fazenda era uma grande propriedade, cercada de floresta, a frente da sua sede um vasto campo de futebol, para as peladas dos peões. A lua não ficava solitária no céu, não havia poluição nem nuvens para lhe tirar a companhia das estrelas. A família pantaneira descansava no conforto que as posses garantiam.
 Seria assim, uma noite tranqüila, não fosse o chamado da noite, fatiando o quadro num belo uivo harmônico com os barulhos da mata. Agourento, porém belo, denunciando a presença de uma fera nos arredores. A escuridão tem o poder de ao menor sinal de medo, transformar o natural em inefável.
Um segundo uivo e um movimento já podia ser visto na estradinha de terra. A fazenda estava cercada de aldeias. E primeiro um, depois outro, e enfim uma multidão de indígenas povoava o caminho em direção a sede. Em alguns minutos dezenas de pessoas se assentavam no campo de futebol e voltavam-se à casa como quem se cerca de um altar. O pedido silencioso como uma prece como que mudava sensivelmente o tom dos bichos da mata.
_ Não vá...
Não precisava responder à sua esposa, era um Medeiros, não cabia outra coisa a não ser ir. Calçou as pesadas botinas, sujas de lama endurecida e se pôs a caminhar em direção à porta de madeira. Ali atrás o seu arsenal se exibia, como se cada arma se exultasse ao ser a escolhida, e por isso, diante dos olhos graves, destilavam os seus mortíferos encantos. Retirou a espingarda, conferiu a mira e a munição, quase se podia ouvir o suspiro do metal. Ao atravessar a sala ainda olhou a preocupação da dama. De novo não disse nada, acenou quase milimetricamente com a cabeça e afundou o chapéu em sua cabeça. Os três filhos, uma menina e dois meninos, tinham os olhos estatelados, o medo no semblante, e se agarravam cada um a seu modo nas saias da mãe, não ousavam falar nada, eram tempos de ampla autoridade paterna. Este saiu, o mais novo correu para o colo da mãe, e todos saíram no encalço do pai.
Já se ouvia um terceiro uivo e a figura do homem ia caminhando, entrando na escuridão da mata, observada pelos índios, porém, carregada pelos olhos molhados da esposa. A cada passo se tornando um vulto, como que engolido pelas trevas. A senhora sabia o que lhe esperava. Horas de aflição. Os índios mantinham sua posição, não se via com que expressões.
_ São só índios querido...
Disse para espantar o próprio medo, mas viu que o mais velho também engolia seco. A tribo continuava sentada ao longo do campo, mas agora observavam a floresta. Outrora um vulto, o homem agora era indistinguível da escuridão. Será que algum olho humano ainda o via? Ou agora era privilégio dos espíritos da natureza e dos animais noturnos?
A cadeira de fio na varanda da casa era um posto de observação. A reza baixinha competia com alto chio dos insetos. A filha, criança do meio, fechava os olhinhos de sono, era quem ocupava o colo da mãe, os dois meninos sentavam no chão com os braços apoiados nos joelhos. A cada hora o temor crescia como um fungo nos corações. E se ele não voltasse?
Como uma resposta a tanta expectativa um novo barulho. Um tiro. Menos agourento, menos bonito, e trazendo consigo um alívio inicial, embora denunciasse a distância que ele estava, que não era pouca. O sobressalto dos índios também parecia conter um pouco de desopressão.  Para a família, aquilo significava que de agora em diante tratava-se de uma contagem regressiva, e os músculos rígidos se soltavam com prazer.
Mais algumas horas e a floresta começava a vomitar, longínqua, o vulto, e este pouco a pouco se tornando homem, a cada passo, próximo. O peito palpitava de emoção. As crianças sorriam deixando transparecer o orgulho. O homem não estava só, arrastava com uma das mãos o corpo morto, de pelos negros como a noite, e na outra mão mantinha o algoz apoiado no ombro. A expressão sempre sisuda ainda coroava o rosto quando se dirigiu à tribo com o produto da caçada noturna. Era caça, mas aquilo não era sobre carne, aquilo não era sobre diversão. Os índios, ao observar a figura inerte do lobo inerme perante seus pés, agora partiam, tal como antes vieram. Escorriam os últimos tons de medo da mulher e seus três filhos.
O homem, abandonando a carniça, pensava que o outro dia era longo o bastante para dar fim àquilo. Voltou-se à varanda e observou a família à espreita, foi se aproximando com passos firmes. Quando finalmente alcançou a soleira, em pé diante dos quatro, sua altura chegava a assustar, característica dos Medeiros. Com um gesto duro, sem o menor sinal de suavidade, retirou o chapéu e estendeu-o à esposa. Adentrou a casa.
_ Vamos, é muito tarde... Passou da hora de dormir.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

O Mal



   Um dia acreditei com todas as forças no sobrenatural. Era necessário uma série de rituais que impedissem o sorrateiro mal pronto a prejudicar, o invisível estava prestes a dar o bote, por detrás das sombras, e qualquer cuidado era pouco. Nada de rezar deitado, isso não é respeitoso, nada de usar palavras “ruins” (como se existissem palavras desse tipo), se cuide com os pensamentos, desejar o mal é quase o mesmo que fazê-lo. Deus era a representação de tudo que podia impedir o mal, cerceá-lo, me proteger. E eu precisava provar o tempo inteiro de que lado estava. Nada é de graça. E de qual lado eu estava mesmo?
    Um dia descobri que as sombras estavam em mim, era da minha escuridão que se tratava, era meu o invisível perto de atacar. Não podia ver antes, estava preocupado demais com a possibilidade de um fantasma aparecer, como num filme de terror, enquanto olhamos para o espelho... Não é por nada que o mal apareça no espelho. E sempre quando estamos sós.
    Essa descoberta reduziu a importância de Deus na minha vida. Reduziu a zero a importância dos rituais, embora estes às vezes sejam difíceis de abandonar. Aprendo a aceitar o meu “mal” e faço o luto de Deus, demorado, mas em processo. A vantagem é que já não tenho mais tanto medo. E ser “bom” é responsabilidade minha comigo mesmo.
    Como ateu eu estaria discutindo a existência de Deus, por isso, não me encaixo aí, o meu debate não é no campo científico, se existe um ou não, isso não me interessa. A realidade das coisas merece só um tanto de atenção e pode ser facilmente superestimada. A questão toda tem relação com apenas um sujeito. Cada um que responda a sua pergunta como quiser. A minha resposta, esta é só minha, e isso deve ser entendido da maneira mais radical possível, tanto que é preciso questionar qualquer pretensão (minha ou de outrem) de que ela valha para mais alguém.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

No dia que nevou


Era de manhã muito cedo. Já fazia alguns dias que ele preferia se trancar dentro de casa, rabiscando pilhas de papel. Não havia pagado a conta de luz e isso limitava bastante suas possibilidades, embora não o impedisse de vez em quando, de tomar o controle da TV e apontar para a tela. No segundo seguinte lembrava-se da falta de energia e voltava a escrever. O frio que fazia naquela manhã invadios cômodos e congelava seus ossos, era a justificativa do dia para o copo de cachaça que ele bebericava no desjejum. Tinha os olhos tristes, tão pretos e cheios de dor que refletiam nas folhas, em cada palavra de angústia, em cada rabisco de sofrimento. Era no chão que se sentava, em cima de um tapete espesso o bastante para evitar uma hipotermia. Em torno do seu corpo, como satélites, seus escritos, como se lançados em sua órbita, sem movimento. Resgatou uma folha, que de vida só mantinha uma marca escura, redonda, evidenciando o lugar que pousara a xícara de café no dia anterior. Leu, amassou, lançou mais longe. Lá fora caía uma chuva estranha, congelada, tocando os telhados em um barulhinho fino. Desde criança, o tempo sempre lhe inspirou, já sabia do poder da tempestade, mas nessa manhã o frio impedia qualquer idéia de pôr o pé fora do calor da cabeça.
Era tanto o frio que não soube bem dizer o que o fez sair, ainda por cima pouco agasalhado, enquanto granizo caíaNos fundos da velha casa, parou e olhou para os céus, pediu um milagre. O gelo tocava seu rosto incomodando. Nenhuma voz ecoou apesar da enfática demanda. Suspirou e resolveu entrar de volta se sentindo um idiota.
Ao pisar no “seja bem vindo” na entrada da porta detrás - apenas mais um de seus contra-sensos - ouviu o som da chuva sumir, mudar. Não era a voz de Deus e sim seu silêncio. Voltou-se novamente para fora. Pairando sobre o quintal, pequeninos flocos esvoaçavam pelo ar, não se caíam mais de maneira reta, direta, algo mudara. Aquilo era... Neve?! Manteve-se inerte, sem frio, hipnotizado. Nunca tinha visto tal fenômeno, o último registro desse acontecimento naquela cidade contava quase 40 anos... O vento jogava para lá e para cá os pontinhos brancos. Eram como papel picado. Eram seus escritos, perdidos e derretendo ao tocar o chão.
_ Preciso pagar minha conta de luz – o pensamento o acossou.
Acabara a breve neve, e seus olhos sorriam quase acalorados.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A tragédia do amor não categorizado

Conheci um menino certa vez. Ele tinha um problema sério. Sério de verdade, não como daquelas pessoas que gostam de reclamar... Não era problema de dinheiro, que todo mundo tem, nem problema de saúde, que todo mundo vai ter. Era algo realmente exclusivo. Podia fazer dele alguém especial, mas na verdade só o fazia um pobre desgraçado. O rapaz num belo dia conheceu uma menina, e ali começava sua desventura. Amava-a, não havia dúvidas, seus pensamentos a perseguiam, presença dela era ansiada, seu peito vibrava na menor possibilidade de vê-la. Até aí tudo bem, no entanto, o problema era a categoria. Não a amava como uma namorada, ou como uma esposa, nem ao menos como uma amiga ou amante... Não tinham laços familiares, nem profissionais, nem de mestre e aprendiz, paciente e doutor, muito menos analista e analisante. Então, como encaixar aquela garota no seu amor? Teria ele que inventar uma nova maneira de amar? Uma exceção à regra, um amor não especificado? O que fazer com o desejo que ardia no peito? Estava praticamente sendo queimado vivo. Quase nada podia oferecer a sua amada, a não ser o que fosse pontual. Um olhar? Um beijo? Sexo? Estava condenado ao hoje, uma caixa de presente vazia, sem futuro. Ficava claro o destino dos dois, a saber, iam dar errado pela falta de criatividade de Deus que não soube criar categorias suficientes para dar conta de todas as formas de amor que podem existir. Logicamente essa é uma história que não poderia acabar bem e não ambiciona ensinar nada para quem a escuta. Trata-se apenas do relato triste e resumido de uma tragédia. E assim, finalmente, aconteceu. Um dia, tamanha era a urgência que não encontrava meios de se escoar, tal qual uma represa que não pode sustentar a pressão da águateve fim aquela história de amor. Dizem que a loucura foia única saída para eleLógico, como não há categorias suficientes só pôde viver desprezando todas as que existem e com isso perdera a capacidade de amar, ou na opinião de outros, passara a amar todos da mesma maneira. O que na prática a meu ver, é a mesma coisa. A menina, me perguntam, essa teve destino melhor, seu amor sempre foi do tipo catalogado, e portanto, amou outro garoto como homem, como namorado, depois como marido, como pai de suas crianças, como companheiro de anos, avô de seus netos... Nunca mais se lembrou do menino louco.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Com respeito aos gatos

Meu pai sempre odiou os gatos que ficaram na casa. Eram dois. Os antigos moradores fizeram o favor de deixá-los e ali eles ficaram. Sabe-se bem do apego dos bichanos pelo lar, era tanto que de nada adiantava os corridões e maus tratos que nosso pai dedicava àqueles bichos. Estes corriam e subiam no telhado fazer ninho, despreocupados, senhores, como antigos donos que eram daquela casa. Meu pai se queixava e praguejava... Os gatos continuavam indiferentes. A indiferença, o egoísmo e a arrogância felina são conhecidos, mas essa história é sobre outras qualidades dos gatos, enfim, é sobre, como devo a minha vida a um bichano desse, indiferente, egoísta e arrogante.
Era dia quente em Guiratinga, chego a sentir a textura da bacia de metal, a qual servia de piscina naquela tarde. Provavelmente eu dava aqueles tapinhas na superfície da água e gritava feito um bebê, esparramando minha alegria infantil pelo chão de cimento. Em pé, a moça que me cuidava lavava algumas peças de roupa no tanque, assobiava alguma canção imprópria para crianças. Um dos gatos caminhava por ali aproveitando que meu pai estava dentro de casa, provavelmente escutando música. O felino se lambia e aproveitava a folga para caçar alguns insetos, afinal, a vida não estava sendo fácil desde a partida dos donos. E como ainda não tínhamos o Kid, o quintal estava livre.
Eu ali na bacia mal sabia o que era gato, o que era bacia e muito menos do risco que representava outro tipo de animal, que agora se escorregava em minha direção. Anos depois na escola, ouvi atentamente a professora de Ciências explicando que dependendo da forma da cabeça, do rabo e das cores é possível de antemão prever o tamanho do perigo. E algumas cobras são um tanto temperamentais.
Lógico, o risco poderia não ser tão grande, afinal minha cuidadora estava bem pertinho, já está até vendo o bicho, agora é só ela me pegar e correr para dentro. Era simples. Não costuma ser uma boa idéia largar um bebê e uma cobra peçonhenta no mesmo ambiente, porém, o medo não costuma ser testemunha das ações mais coerentes e conscienciosas. Pronto, agora tínhamos de um lado um bebê e de outro uma cobra. Ainda dava para ouvir os berros da babá ficando cada vez mais distantes.
Acabou que muito cedo na vida presenciei, embora não me lembre absolutamente de nada, a beleza da coragem felina. Talvez tenha sido meu primeiro filme de herói, que eu assisti ali, ao vivo. O intrépido bichano se atravessou entre mim e o animal deslizante. E com a agilidade própria a sua espécie, se desviava dos ataques violentos, não sem antes acertar patadas intimidadoras na cobra. Nesse vai-e-vem concentrou a disputa. Por alguns minutos manteve a distância necessária entre o humano bobo e indefeso e a morte certa.
Não sei por quanto tempo o gato conseguiria segurar aquele animal tão feroz. Mas foi irônico quando por trás da cena, no momento exato e necessário, eis que surgiu o fiel parceiro do herói, meu pai, e atingiu mortalmente a cobra enquanto esta se encontrava completamente distraída pelos ataques do mamífero, salvando ambos, o gato e o bebê, e mostrando que, homem e gato, eram muito melhores juntos.
Os olhos do meu pai não podiam acreditar na cena que via. Ainda ofegante contemplou o herói do dia. Ainda eriçado o bichano levantou o focinho, devia saber que aquilo se tratava de um cessar fogo entre os dois, e em seguida continuou sua caça por insetos como se nada tivesse acontecido.
O bebê sobreviveu, a babá foi demitida, e a família passou a contar com dois gatos. Eles viveram um bom tempo a pão de ló e bife e não mais sobre o teto, sim sob o teto. Um dia sumiram os dois, numa tarde de primavera, provavelmente em busca de outra aventura. E a marca da coragem aparentemente ficara, na lembrança, nas histórias do meu pai, e fora delas, cravada na criança.  

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O mar e seus dentes


O mar não é coisa que se vê sempre de onde eu venho. É mais fácil conhecer pelo Caymmi. Mas só o acompanhamos mesmo quando estamos diante da imensidão do oceano e quando deixamos o olhar se afogar para além. Aí realmente é possível entender por que alguém dedicou uma obra inteira sobre o tema. 

Estavam mortos os anos oitenta, recém terminados, quando finalmente deixei banhar as vistas nas águas salgadas e descobri o que estava mais para cá do meio do país. Onde termina o Brasil e continua o mundo em água. A beleza de se estar diante do inapreensível, da combinação perfeita entre o pôr do sol no horizonte molhado, não poupou dividir lugar com algo mais ao sul dos nossos medos. A morte. Logo nos primeiros dias do verão ficamos sabendo de afogamentos.
_ Não entre no mar sozinho.
Deitei-me na areia e contemplei o irmão do mar, o céu. Era idade que não cabia preocupação alguma com a areia. As ondas mansas alcançavam meu corpo e molhavam enquanto o sol secava, e nesta alternância a pele agradecia. Dei um giro, empapando o tronco de areia molhada e descobrindo que o mundo tinha outra perspectiva, e mais um em seguida para finalmente sentir o barato que é estar em sintonia. Com os olhos fechados fui transportado magicamente. Entre um giro e o próximo, o sol morenava ora um lado ora outro. Não havia mais barulho que não fossem o das ondas. Poderia ter escrito uma canção sobre o mar, porém, ainda não era disso. A perfeição é um giro na areia enquanto as ondas chegam. Mas deve haver um fim.
De fora desse mundo uma voz num misto de brabeza e alívio. Foi meu nome em alto e bom som que me trouxe de volta à praia, aquela que não era de verdade, e meu pai com a boca encrespada me olhava de uns cinco metros adiante.
_ Quê?!
As próximas horas tive que dedicar a escutar em como desesperei toda a minha família com meu “sumiço”, pensaram que eu estava no fundo do mar, que este havia me engolido, e eu, ao meu modo, sabia lá do fundo, que afinal, isto não era de todo mentira.

domingo, 28 de julho de 2013

A resposta [com pretensão ilusória de ser] definitiva


Por que partir para tão longe? Ora, o que se busca com a distância senão se aproximar do que nem imaginamos que existe?  Foi com excitação que eu vi meu destino ser escolhido num lance de dados. Que tal essa cidade? Por que não?! Na minha infância sempre fui um tanto fugidio, um tanto inquieto nesse sentido e uma pessoa fugidia geralmente não é bem interpretada, pois normalmente quem foge o faz por sentir-se preso, e neste caso, a quem ficaresta a alcunha de carcereiro, ninguém gosta disso. Mas é tudo culpa da semântica. Não fugi por me sentir preso, mas sim pela delícia de escapar, deixar para trás o que era conhecido. Ir para longe é um modo de desrealizar-se, deixar-se evaporar do que já foi, ter-se com a própria falta de consistência. Ir atrás do novo. E poder ser de novo, do começo, para finalmente reencontrar exatamente aquilo que parecia mesmo que já era. Fato este que até pode parecer um desperdício, ir tão longe para descobrir que não se vai, porém é o que esconde a verdadeira riqueza. Esse caminho de volta para o si mesmo é uma aventura, e é isso que guarda toda a importância. 
Fui para ser outro e me guiei  para o mesmo, esta é a resposta última...
 O que nos sobra esclarecer, é que esse blog não deixa de ser um diário de bordo dessa jornada, que por outro lado não passa de outra fuga, mas agora uma diferente, pois dessa vez é uma fuga de volta.

domingo, 21 de julho de 2013

Tarde na estação da chuva


O ar percorre os corredores da casa. Vindo lá de distante o cheiro de terra úmida pega carona na corrente. No quarto uma porta mal trancada sela um caminho, obriga o vento a se virar, assusta o menino que pensa. Pensa com o lápis entre os dedos. Apóia o queixo com as mãos. O chão é gelado, mas é superfície perfeita na estação da chuva. O menino pensa no melhor desenho, sem cor, por que isto é perder tempo, as horas devem ser reservadas ao que importa. A casa está quase vazia e tão vazia que podia se escutar os pensamentos do menino. E lá longe os barulhos do céu. As descargas desfigurando a paisagem. A inspiração é como a tempestade, mas o menino ainda não sabe, ele acha que é o cheiro de chuva e o barulho do vento. Chega a pensar em desistir, ir brincar com os “homenzinhos”, mas a trovoada se aproxima, o galope infernal da natureza. Eis que de repente um traço aqui, as mãos não tremem tanto como hoje, no entanto, a linha ainda é falha. O barulho do toque violento da água sobre as calçadas vem se fazendo da rua de baixo até finalmente alcançar toda a Colina Verde. Mal dá para conversar dentro da casa. O menino não quer conversar. Pensa um pouco mais e vê-se um brilho em seus olhos. Prepara o lápis, observa o quase branco do papel, deixa que todos os elementos se conjuguem, que o cheiro, o sons, o toque, tudo faça parte,toma o impulso derradeiro e no escorregar do lápis é lançado para fora da tempestade.
_ Menino, levanta daí e vá calçar um chinelo, tá relampeando.

domingo, 14 de julho de 2013

Meninas dançantes

Entrar na roda, sem querer dançar e acabar dançando pela impertinência de entrar. Paguei com a vergonha a minha coragem, defeito de nascença para fingir que não tenho nada com isso, quando é quase tudo que eu sou. Festa junina da escola, a quadra estava reservada para a apresentação das meninas, elas pareciam enormes, deviam ser provavelmente da quarta-série do Ensino Fundamental, muito velhas. Já devíamos ter aprontado bastante naquela noite, os comparsas de sempre se desafiavam em peripécias ainda mais ousadas. Mas quem teria a audácia de invadir a apresentação alheia? Era quase irresistível. Um, depois outro, atrapalhando várias semanas de ensaio.

 Verdade seja dita, se não reconhecemos os limites próprios, é preciso que a roda se feche, e acrescento que, se ver  preso dentro de uma roda de meninas dançantes pode ser bem angustiante para um menino ainda há quilômetros da adolescência. Punição por ir longe demais, coroada com a voz na caixa de som lembrando que não se pode entrar na quadra durante a dança. 

Restou pouco a fazer, sair de lá passando por debaixo dos braços, furando a roda mal feita foi como entrar em outra roda, daqueles que são capazes de escutar uma ordem, em forma de voz. E mais importante ainda, daqueles capazes de se constranger diante do sem limite de si mesmo. Vergonha despedaça qualquer roda que se tente fazer do ser.

domingo, 7 de julho de 2013

Ás vezes eu queria...

Ás vezes eu queria descansar. Que se findasse a preocupação. Que o mundo parasse por um dia, que eu me deixasse ser o que eu nunca quis. Tinha que ser como quem dorme, mas sem adormecer. E os outros nada mais que versões de mim, alguma boa e pouco incômoda, e assim, sem mais guerras cotidianas. O silêncio deste dia só seria seguido de mais silêncio, os vizinhos calçando sapatos de nuvens poderiam até dançar catira, sem jogos de futebol e fogos dos vitoriosos, sem gritos de bebê. O balanço faltando óleo devolveria o movimento ao universo. Não seria preciso correr para a geladeira ou para a cozinha, nem o corpo me estressaria. Eu finalmente teria o tempo, este tão ansiado e desejado, como quem possui um objeto, ou um passarinho numa gaiola. Eu finalmente tomaria o branco do papel e a imaginação não escaparia. Com o lápis na mão e alguns traçados chegaria rapidamente á terrível conclusão: Ás vezes eu queria morrer... O susto se amansa na medida em que percebo que já no escrever denuncio que a morte não está só, afinal, o barulho que o risco do lápis faz no papel me agrada profundamente.

domingo, 30 de junho de 2013

Tarzan das janelas


Eis que ali estava, o desafio em forma de grades. Seria eu quem naquele momento? Vários, menos eu. Tarzan ou Superman, podia escolher quem fosse eu. Não precisava ver que minha mãe deitava bem próximo, não precisava contar prá ninguém, necessariamente isso atrapalharia meu momento de heroísmo. Minhas mãos se agarravam à grade com a agilidade própria a um super herói, podiam chamar de janela, para mim ainda era uma árvore gigante, numa floresta perigosa e tudo era do maior risco imaginável, certamente havia um risco... E, para fins de emoção, esqueçam da minha mãe deitada na cama ao lado da janela. 
Respirei profundo, planejei o salto com a sabedoria e experiência conquistada durante todos os 3 anos da minha vida, todos vividos intensamente. É, eu podia fazer aquilo, nem era tão complicado assim, e além do mais, nunca caíra em toda a minha vida. Coragem sempre seria o meu defeito favorito. O pulo de um cipó para o outro e uma seqüência de fatos obscuros. O que mesmo deu errado? Doeu, é verdade, mas por que tanto desespero assim dessa mulher? Mãe, precisa mesmo gritar do meio da rua? A fralda de pano recostando no meu rosto e a pressão no cocoruto quente. Minha mãe atravessava a única avenida da cidade, indo em direção ao hospital e gritava o vizinho, enquanto isso, em seu colo, eu achava tudo esquisito. Dr. Odoni, vem logo senão minha mãe vai ter um troço aqui no meio da rua. O rosto já se molhava num tom rubro. É, talvez ela tenha razão de estar assustada...
A primeira cicatriz ninguém deveria esquecer, para um super herói pode até ser um troféu de batalha, para um homem é bom que seja uma lembrança inquestionável de que não é o Tarzan, muito menos o Superman.

domingo, 23 de junho de 2013

Uma despedida


   Chego a duvidar se existem momentos de despedidas de verdade. Quando um adeus significa nunca mais e num segundo posterior a pessoa antes parada em sua frente passa a ter uma existência esquisita, apenas nas imagens de fotografias e vídeos, vozes repetitivas e umas linhas desenhadas nas areias da memória, correndo o risco, sempre iminente, de ter o mar invadido e a marca apagada. 
   Ela o olhou profundamente com os olhos castanhos claros, enquanto puxava o casaco para evitar o frio da tarde, pretensa noite, e não pôde dizer adeus. Soava mais como o de sempre, um até logo, mas ambos sabiam que o juiz já havia decidido, implacável, sobre o futuro dos dois. Bem ou mal, não restava outra possibilidade a não ser aceitar. Não era pena de morte, embora se tratasse sim, ali, de uma morte. Nunca mais poderiam brincar de para sempre. Torcer para o tempo passar mais devagar e a conversa durar sempre um pouco mais. O que cada um pensava não poderia ser claro para ninguém, possivelmente não o era para eles próprios. Ele riu, convicto em não demonstrar fraqueza, e por que o sorriso era a única coisa que lhe restara de oposição à dor. Disse que tinha que ir. Se perguntou se tinha mesmo. Foi. Sem antes deixar a sensação do seu corpo no corpo dela, como que oferecendo mais um atributo de lembrança. Mais uma coisa prá sentir saudade. Ela manteve-se cínica, largou do abraço, alguém precisava fazê-lo. Ele foi, entretanto ainda deu tempo de dar uma última olhada e ver que ela de costas, mantinha o mesmo ar gracioso que o encantara. Ela parecia bem e ambos seguiriam suas vidas, se era até nunca mais já disse que chego a duvidar. Nos olhos dele o máximo que se podia ler, era um Quem sabe em outra vida. E ela, por sua vez, já estava de costas, e os seus olhos, portanto, ficavam na imaginação.

domingo, 16 de junho de 2013

A humanidade e o cachorro

    A humanidade é uma conquista. Num campo de batalhas sangrento, tão pouco humano. Vasta planície em nós mesmos com soldados armados até os dentes. E a guerra começa cedo. Qual era o mal em prender meu cachorro entre a parede e o sofá? Pobre animal, completamente dependente dos homens, como se fossem estes dignos de confiança. Embora o Kid não fosse bobo nem nada, e ter caído de cabeça logo nos primeiros dias não tinha lhe retirado a agilidade. Vida difícil teve esse filhote. Naquele dia éramos duas crianças, eu e meu primeiro amigo Luís. E a esperteza do cão não lhe serviu muito.  Qual o mal em judiar do cachorro? Confesso que na época era uma pergunta articulável, uns chamariam de ingenuidade, eu chamo de maldade mesmo. É preciso chamar pelo nome certo, se civilizar para mim incluiu nomear certas coisas. E aprender sobre minha própria destrutividade, agressividade não foi tarefa de fazer sozinho, e nisso eu e o Kid temos a agradecer ao Luís. Quando ele chorou foi como se suas lágrimas refletissem a minha tendência bárbara, e toda a história de força que atravessa as gerações da minha família. Ali fui colocado em cheque e algo mudou definitivamente. A construção da humanidade, obviamente não se decide numa batalha, mas há um momento onde se conquista um ponto estratégico que antecipa de maneira clara o fim. Precipita-se uma decisão, simples, e tão complexa quanto se pode imaginar. 
    Culpado, afasto o sofá, e o Kid sai correndo bem ligeiro, no máximo que suas patas o permitem. Xingo meu amigo de modo a não deixar claro o meu constrangimento. O Kid já desapareceu. Tudo bem, ele voltará abanando o cotoco. Ansiando minha presença. É da natureza do cachorro dar uma segunda chance, parece que eles acreditam mais na humanidade do que os próprios homens. Mas também, que opção eles têm?



* Antecipei essa postagem (que não seria publicada hoje) em virtude de toda a discussão sobre sociedade e violência, resultado dos protestos dos últimos dias. Se humanizar também é superar esse modelo ditatorial e violento de sociedade. O choro do meu amigo, no escrito acima, foi manifestação suficiente para repensar a minha violência, será que tudo o que está ocorrendo no Brasil, todas as manifestações que acompanhamos, serão o suficiente para que nossos políticos, representantes e população repensem a violência que há nas ações de algumas de nossas instituições? 

terça-feira, 11 de junho de 2013

As coisas pequenas que o amor traz

Nunca fui bom em falar do amor. E me dedico aqui ao tema com a advertência de que não escreverei sobre as grandiosidades do amor, embora haja tantas, mas justamente de pequenices, igualmente deliciosas, que o amor costuma me trazer.

Percebi que amor me leva onde não iria só, expande as possibilidades quando só o que eu vejo é o de sempre. Me traz o pão diferente que eu não compraria, me leva em restaurantes suspeitos de serem o que eu nunca sugeriria. Me compra um terno alinhado, me faz voltar a disney com barba na cara e me divertir ainda mais que quando criança. O amor também me desalinha os cabelos, por que acha mais bonito, quanto mais bagunçado melhor, mas insiste que sejam bem cortados. O amor me convence a tirar os sapatos prá não sujar os tapetes e me ensina o prazer de uma casa bela. Pendura os quadros, rearranja os móveis, pinta-os de amarelo. O amor me apóia a herdar velharias e acha bonito que fiquem na sala, penduro as guitarras, exponho os livros, o amor enche os olhos, sorri e concorda. O amor topa um show do Ludovic, e até se diverte comigo. Diz que música ruim dá dor de cabeça e que instrumental é canção sem pedaço. O amor me faz conhecer melhor as pessoas e se deixa conhecer aos poucos. Há momentos que o amor me desconcerta, prova por a mais b que não somos um, que cada um é outro, que se pode não ser sempre. O amor me ensina que eu sou um chato, que sei atacar na mansidão. Me convida a deixar de me infurnar nas ideias e a fazer um pouco prá variar. Em especial, o amor me mostra que as pessoas têm salvação, que cada um é uma imensidão e que além dessa grande massa irregular, há gente.
 Também o amor elogia o que eu escrevo, ressente que tão pouco sobre o amor. O que não sabe o amor é que é pura incompetência em exprimir o tamanho que tem cada coisa que ele me traz.
Agradeço com todo amor.


*essa é uma postagem extra, o compromisso da atualização toda segunda-feira continua valendo

domingo, 9 de junho de 2013

O cheiro da morte

    Seja como for não é possível se furtar do encontro com a morte. Uma das poucas certezas que se pode ter. E não há preparação, embora se tente.
    
    Uma igreja em frente a minha casa. Ao lado desta um hospital. Alguns morriam no prédio a minha esquerda e acabavam no prédio à minha frente. Naquela tarde isso ocorrera. Não sei exatamente o que me fez adentrar às grandes portas daquele templo, o fato é que lá estávamos. Nós, eu e ao meu lado, como sempre naquela época, o Alemão, o primeiro amigo André da minha vida. Pisamos porta adentro, com meu coração crescendo no peito. Alguma vertigem, afinal tinha um morto ali. Qual seria o seu rosto? Imaginei um homem. Não sei de onde... Talvez fosse o vislumbre do futuro, um daqueles momentos que nossa vida dá um salto para o fim. Era um moço, portanto, torço para que não se trate disso.
    
    Vivos tinham poucos, talvez apenas um, o que nos deu a liberdade para a curiosidade. O caixão ficava numa altura que nos impedia de observar com calma. Talvez seja a altura que todos imaginam que alguém precisa ter para fitar a morte. Nos restou subir no altar e pular para avistar. Pronto! Uma senhora, a qual nunca soube o nome, muito idosa, pequena. Haviam flores, o cheiro delas perfumava o ambiente, e marcava para sempre como o cheiro da morte. O quadro ainda se mantém firme na memória, fácil de evocar. Curioso que a primeira vez que eu tenha visto a morte, a tenha visto de relance, no salto, enquanto caía... Por outro lado, chego a me perguntar se existe outro modo. Penso um pouco e se esvai o ar de especial. Mas uma coisa ainda me chama atenção, contrasta a força da imagem com a rapidez da sua vista. 
    
    Ao tocar os pés no chão, após o salto do olhar, já não caía sozinho, a angústia me acompanhava. Vergonha de bisbilhotar? Culpa? Como se meus olhos tivessem assassinado aquela senhora... Ou seriam cúmplices?
    
    Olho para os lados procurando ver se há testemunhas. O Alemão não parece se preocupar. Alguém reza por ali. É melhor escapar enquanto é tempo. Olho para porta, aquela que conduz à vida lá fora, aquela que tem ao fundo a minha casa. Se eu apertasse os olhos contra o sol que cega de lá prá cá, quem sabe podia até ver minha mãe no portão. 

   Corremos juntos em sua direção. Um pouco impressionados, um pouco enganados. Corremos como  se fosse possível correr.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Da goiabeira ao sonho



Desci da goiabeira e fui direto para a garagem. Através do muro, lógico. Minha idade permite certas manobras. E embora haja tanto tempo a perder, por que deixá-lo esvair dando a volta até o portão.
Atravesso pelo lado direito da casa, observo os detalhes no alto da parede da garagem, permitem que a luz adentre, são bem parecidos com os da casa da minha avó. Sigo até a área da churrasqueira e do tanque. Dou uma olhada na despensa que fica fora de casa, numa casinha adjacente à área de limpeza. Dois objetos em especial me chamam atenção dentro daquele muquifinho. Uma peixeira do meu pai, lembra uma espada, quase um machete, e os cascos de uma tartaruga, pescada numa época que não havia vergonha em dizer isso. Deu um belo de um almoço.
Viro a esquerda no corredor que é a parte detrás da casa. Subo a escada para entrar na porta de metal, que está aberta. Puxo uma caixa cheia de brinquedos, mais precisamente bonecos, homenzinhos, na verdade personagens. Trata-se de um mundo de guerras violentas, lutas sangrentas, aventuras excitantes.
Deitado no chão gelado, ali eu construí esse texto. E todos os textos que viria a escrever, todas as canções. Todas as fantasias que me habitam. Todos os sonhos que me visitam. Ali foram minhas horas da infância. Acho que ali eu aprendi como sobreviver à solidão, pois não importa o quanto se está só, sempre há nossas histórias, cheias de gente.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Guiratinga


Pássaro branco, garça branca. Paralelepípedos no lugar do asfalto. Só ali poderia ter eu nascido, se fosse em outro canto seria outro. Velha cidade, sugada até o osso pelos mineradores de outrora. Diamante na beira do córrego do Lageadinho. Pesca de lambari, tiro de 38 com o pai. Ensinamento rico sobre o risco de pisar em arraia. Já vi cidade agricultora e pecuarista, industrial, turística e universitária, a minha girava em torno de um hospital. Gente de toda a região, e de longe vinha se curar por aqui, ou vinha só prá morrer. No carnaval de ruas cheias, ainda sinto o peito disparar ao ouvir tambores. Eram os caretas dobrando a esquina. Melhor sempre era correr, a coragem custava o asseio. Quantas vezes me vi branco dos pés à cabeça, talco, araruta, farinha. E sabe lá o que mais. Lá formamos um trio, aprendemos a nos defender dos valentões, subir em árvore, comer goiaba e continuamos juntos por que assim éramos melhores. Cidade de loucos e lendas. Prá dentro de casa que a procissão vai passar, não é prá quaisquer olhos. Prá dentro de casa dançar, a folia dos reis cobrando o tributo. Prá dentro de casa almoçar, que a mãe já chegou de branco. O cheiro de laboratório misturado com o de comida. Ser atropelado na única avenida. Correr com o Kid nos calcanhares. A Joana chamando lá da cozinha. Chorar por não ter madrinha. Saudade irrestaurável dá até prá duvidar, existiu mesmo um lugar como Guiratinga?

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Justificativa para este blog



Pretendo usar esse espaço para publicar pequenos textos, uma vez por semana... E justifico:

Por que justificar? Não que se precise, mas certas explicações têm efeitos importantes para quem as dá, e por isso vou correr o risco. Deste modo, discorro que a construção desse blog baseia-se principalmente no desejo de contar estórias, recentemente descobri a importância disto na minha história. Tornar público o que é do infinito da memória, infinito na medida que inclui o que é do campo profícuo da imaginação, sempre me seduziu e de certa maneira cavou os sulcos por onde me escorri na vida. Ser desenhista, ser guitarrista, ser cantor, ser psicólogo, ser escritor para mim nunca foi ser nada disso, trata-se sempre de um apaixonado por histórias/estórias, escrito assim para romper com a divisão entre real e fantasia. No que conto, não sei onde começa um e termina outro. O convite é que, a quem interessar, me acompanhe nessa restauração criativa de ideias antigas, memórias importantes e mentiras interessantes. Prometo a sinceridade de uma criança.