segunda-feira, 2 de setembro de 2013

O Mal



   Um dia acreditei com todas as forças no sobrenatural. Era necessário uma série de rituais que impedissem o sorrateiro mal pronto a prejudicar, o invisível estava prestes a dar o bote, por detrás das sombras, e qualquer cuidado era pouco. Nada de rezar deitado, isso não é respeitoso, nada de usar palavras “ruins” (como se existissem palavras desse tipo), se cuide com os pensamentos, desejar o mal é quase o mesmo que fazê-lo. Deus era a representação de tudo que podia impedir o mal, cerceá-lo, me proteger. E eu precisava provar o tempo inteiro de que lado estava. Nada é de graça. E de qual lado eu estava mesmo?
    Um dia descobri que as sombras estavam em mim, era da minha escuridão que se tratava, era meu o invisível perto de atacar. Não podia ver antes, estava preocupado demais com a possibilidade de um fantasma aparecer, como num filme de terror, enquanto olhamos para o espelho... Não é por nada que o mal apareça no espelho. E sempre quando estamos sós.
    Essa descoberta reduziu a importância de Deus na minha vida. Reduziu a zero a importância dos rituais, embora estes às vezes sejam difíceis de abandonar. Aprendo a aceitar o meu “mal” e faço o luto de Deus, demorado, mas em processo. A vantagem é que já não tenho mais tanto medo. E ser “bom” é responsabilidade minha comigo mesmo.
    Como ateu eu estaria discutindo a existência de Deus, por isso, não me encaixo aí, o meu debate não é no campo científico, se existe um ou não, isso não me interessa. A realidade das coisas merece só um tanto de atenção e pode ser facilmente superestimada. A questão toda tem relação com apenas um sujeito. Cada um que responda a sua pergunta como quiser. A minha resposta, esta é só minha, e isso deve ser entendido da maneira mais radical possível, tanto que é preciso questionar qualquer pretensão (minha ou de outrem) de que ela valha para mais alguém.

Nenhum comentário:

Postar um comentário