segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A tragédia do amor não categorizado

Conheci um menino certa vez. Ele tinha um problema sério. Sério de verdade, não como daquelas pessoas que gostam de reclamar... Não era problema de dinheiro, que todo mundo tem, nem problema de saúde, que todo mundo vai ter. Era algo realmente exclusivo. Podia fazer dele alguém especial, mas na verdade só o fazia um pobre desgraçado. O rapaz num belo dia conheceu uma menina, e ali começava sua desventura. Amava-a, não havia dúvidas, seus pensamentos a perseguiam, presença dela era ansiada, seu peito vibrava na menor possibilidade de vê-la. Até aí tudo bem, no entanto, o problema era a categoria. Não a amava como uma namorada, ou como uma esposa, nem ao menos como uma amiga ou amante... Não tinham laços familiares, nem profissionais, nem de mestre e aprendiz, paciente e doutor, muito menos analista e analisante. Então, como encaixar aquela garota no seu amor? Teria ele que inventar uma nova maneira de amar? Uma exceção à regra, um amor não especificado? O que fazer com o desejo que ardia no peito? Estava praticamente sendo queimado vivo. Quase nada podia oferecer a sua amada, a não ser o que fosse pontual. Um olhar? Um beijo? Sexo? Estava condenado ao hoje, uma caixa de presente vazia, sem futuro. Ficava claro o destino dos dois, a saber, iam dar errado pela falta de criatividade de Deus que não soube criar categorias suficientes para dar conta de todas as formas de amor que podem existir. Logicamente essa é uma história que não poderia acabar bem e não ambiciona ensinar nada para quem a escuta. Trata-se apenas do relato triste e resumido de uma tragédia. E assim, finalmente, aconteceu. Um dia, tamanha era a urgência que não encontrava meios de se escoar, tal qual uma represa que não pode sustentar a pressão da águateve fim aquela história de amor. Dizem que a loucura foia única saída para eleLógico, como não há categorias suficientes só pôde viver desprezando todas as que existem e com isso perdera a capacidade de amar, ou na opinião de outros, passara a amar todos da mesma maneira. O que na prática a meu ver, é a mesma coisa. A menina, me perguntam, essa teve destino melhor, seu amor sempre foi do tipo catalogado, e portanto, amou outro garoto como homem, como namorado, depois como marido, como pai de suas crianças, como companheiro de anos, avô de seus netos... Nunca mais se lembrou do menino louco.

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