segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A vida de Taciana

Como deve ser boa a vida da Taciana. Senta no balanço, dá um grito. Gira pelo universo, visita as estrelas num pra lá e pra cá simplesmente. E o barulho indica a falta de óleo, escuto de longe, em seguida dá mais um grito. Como deve ser boa a vida da Taciana, nessa ilha de prédios uma bela casa, coisa que entrará em extinção. E transborda a excitação, dá mais um grito, leva um grito da mãe.
Bom mesmo é quando faz calor e o pai limpa a piscina. Do verde escuro ao azul mais ou menos. Lança-se na água, respinga nos parentes. Soltou um grito antes de afundar. Taciana vai levando as coisas, vai soltando gritos. Enquanto o pai faz churrasco, corre pelo jardim. Taciana não sente nenhuma vontade de crescer, ou disfarça bem demais. Dá um grito e corre para os braços da mãe. Como deve ser boa a vida da Taciana, cheia de detalhes, de sons estridentes e ilusões.
Um dia Taciana irá crescer, ir para longe do jardim, da piscina, dos domingos de churrasco. Os gritos, no passado tão livres, tal qual fossem criminosos condenados, estarão no fundo da prisão da goela. Donde estou não poderá haver silêncio ainda assim. Quem sabe o barulho dos carros, com sorte o barulho da chuva. Río sem graça pensando em quando isso acontecer. É provável que eu que sou um tanto incoerente e reclamo do barulho, quem sabe me entristeça, aponte as orelhas para a janela do apartamento... É, quem sabe, ao não escutar nenhum vestígio de Taciana, eu até escute a falta gritar.   

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