domingo, 23 de junho de 2013

Uma despedida


   Chego a duvidar se existem momentos de despedidas de verdade. Quando um adeus significa nunca mais e num segundo posterior a pessoa antes parada em sua frente passa a ter uma existência esquisita, apenas nas imagens de fotografias e vídeos, vozes repetitivas e umas linhas desenhadas nas areias da memória, correndo o risco, sempre iminente, de ter o mar invadido e a marca apagada. 
   Ela o olhou profundamente com os olhos castanhos claros, enquanto puxava o casaco para evitar o frio da tarde, pretensa noite, e não pôde dizer adeus. Soava mais como o de sempre, um até logo, mas ambos sabiam que o juiz já havia decidido, implacável, sobre o futuro dos dois. Bem ou mal, não restava outra possibilidade a não ser aceitar. Não era pena de morte, embora se tratasse sim, ali, de uma morte. Nunca mais poderiam brincar de para sempre. Torcer para o tempo passar mais devagar e a conversa durar sempre um pouco mais. O que cada um pensava não poderia ser claro para ninguém, possivelmente não o era para eles próprios. Ele riu, convicto em não demonstrar fraqueza, e por que o sorriso era a única coisa que lhe restara de oposição à dor. Disse que tinha que ir. Se perguntou se tinha mesmo. Foi. Sem antes deixar a sensação do seu corpo no corpo dela, como que oferecendo mais um atributo de lembrança. Mais uma coisa prá sentir saudade. Ela manteve-se cínica, largou do abraço, alguém precisava fazê-lo. Ele foi, entretanto ainda deu tempo de dar uma última olhada e ver que ela de costas, mantinha o mesmo ar gracioso que o encantara. Ela parecia bem e ambos seguiriam suas vidas, se era até nunca mais já disse que chego a duvidar. Nos olhos dele o máximo que se podia ler, era um Quem sabe em outra vida. E ela, por sua vez, já estava de costas, e os seus olhos, portanto, ficavam na imaginação.

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