domingo, 7 de julho de 2013

Ás vezes eu queria...

Ás vezes eu queria descansar. Que se findasse a preocupação. Que o mundo parasse por um dia, que eu me deixasse ser o que eu nunca quis. Tinha que ser como quem dorme, mas sem adormecer. E os outros nada mais que versões de mim, alguma boa e pouco incômoda, e assim, sem mais guerras cotidianas. O silêncio deste dia só seria seguido de mais silêncio, os vizinhos calçando sapatos de nuvens poderiam até dançar catira, sem jogos de futebol e fogos dos vitoriosos, sem gritos de bebê. O balanço faltando óleo devolveria o movimento ao universo. Não seria preciso correr para a geladeira ou para a cozinha, nem o corpo me estressaria. Eu finalmente teria o tempo, este tão ansiado e desejado, como quem possui um objeto, ou um passarinho numa gaiola. Eu finalmente tomaria o branco do papel e a imaginação não escaparia. Com o lápis na mão e alguns traçados chegaria rapidamente á terrível conclusão: Ás vezes eu queria morrer... O susto se amansa na medida em que percebo que já no escrever denuncio que a morte não está só, afinal, o barulho que o risco do lápis faz no papel me agrada profundamente.

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