segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O mar e seus dentes


O mar não é coisa que se vê sempre de onde eu venho. É mais fácil conhecer pelo Caymmi. Mas só o acompanhamos mesmo quando estamos diante da imensidão do oceano e quando deixamos o olhar se afogar para além. Aí realmente é possível entender por que alguém dedicou uma obra inteira sobre o tema. 

Estavam mortos os anos oitenta, recém terminados, quando finalmente deixei banhar as vistas nas águas salgadas e descobri o que estava mais para cá do meio do país. Onde termina o Brasil e continua o mundo em água. A beleza de se estar diante do inapreensível, da combinação perfeita entre o pôr do sol no horizonte molhado, não poupou dividir lugar com algo mais ao sul dos nossos medos. A morte. Logo nos primeiros dias do verão ficamos sabendo de afogamentos.
_ Não entre no mar sozinho.
Deitei-me na areia e contemplei o irmão do mar, o céu. Era idade que não cabia preocupação alguma com a areia. As ondas mansas alcançavam meu corpo e molhavam enquanto o sol secava, e nesta alternância a pele agradecia. Dei um giro, empapando o tronco de areia molhada e descobrindo que o mundo tinha outra perspectiva, e mais um em seguida para finalmente sentir o barato que é estar em sintonia. Com os olhos fechados fui transportado magicamente. Entre um giro e o próximo, o sol morenava ora um lado ora outro. Não havia mais barulho que não fossem o das ondas. Poderia ter escrito uma canção sobre o mar, porém, ainda não era disso. A perfeição é um giro na areia enquanto as ondas chegam. Mas deve haver um fim.
De fora desse mundo uma voz num misto de brabeza e alívio. Foi meu nome em alto e bom som que me trouxe de volta à praia, aquela que não era de verdade, e meu pai com a boca encrespada me olhava de uns cinco metros adiante.
_ Quê?!
As próximas horas tive que dedicar a escutar em como desesperei toda a minha família com meu “sumiço”, pensaram que eu estava no fundo do mar, que este havia me engolido, e eu, ao meu modo, sabia lá do fundo, que afinal, isto não era de todo mentira.

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