domingo, 14 de julho de 2013

Meninas dançantes

Entrar na roda, sem querer dançar e acabar dançando pela impertinência de entrar. Paguei com a vergonha a minha coragem, defeito de nascença para fingir que não tenho nada com isso, quando é quase tudo que eu sou. Festa junina da escola, a quadra estava reservada para a apresentação das meninas, elas pareciam enormes, deviam ser provavelmente da quarta-série do Ensino Fundamental, muito velhas. Já devíamos ter aprontado bastante naquela noite, os comparsas de sempre se desafiavam em peripécias ainda mais ousadas. Mas quem teria a audácia de invadir a apresentação alheia? Era quase irresistível. Um, depois outro, atrapalhando várias semanas de ensaio.

 Verdade seja dita, se não reconhecemos os limites próprios, é preciso que a roda se feche, e acrescento que, se ver  preso dentro de uma roda de meninas dançantes pode ser bem angustiante para um menino ainda há quilômetros da adolescência. Punição por ir longe demais, coroada com a voz na caixa de som lembrando que não se pode entrar na quadra durante a dança. 

Restou pouco a fazer, sair de lá passando por debaixo dos braços, furando a roda mal feita foi como entrar em outra roda, daqueles que são capazes de escutar uma ordem, em forma de voz. E mais importante ainda, daqueles capazes de se constranger diante do sem limite de si mesmo. Vergonha despedaça qualquer roda que se tente fazer do ser.

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