segunda-feira, 27 de maio de 2013

Guiratinga


Pássaro branco, garça branca. Paralelepípedos no lugar do asfalto. Só ali poderia ter eu nascido, se fosse em outro canto seria outro. Velha cidade, sugada até o osso pelos mineradores de outrora. Diamante na beira do córrego do Lageadinho. Pesca de lambari, tiro de 38 com o pai. Ensinamento rico sobre o risco de pisar em arraia. Já vi cidade agricultora e pecuarista, industrial, turística e universitária, a minha girava em torno de um hospital. Gente de toda a região, e de longe vinha se curar por aqui, ou vinha só prá morrer. No carnaval de ruas cheias, ainda sinto o peito disparar ao ouvir tambores. Eram os caretas dobrando a esquina. Melhor sempre era correr, a coragem custava o asseio. Quantas vezes me vi branco dos pés à cabeça, talco, araruta, farinha. E sabe lá o que mais. Lá formamos um trio, aprendemos a nos defender dos valentões, subir em árvore, comer goiaba e continuamos juntos por que assim éramos melhores. Cidade de loucos e lendas. Prá dentro de casa que a procissão vai passar, não é prá quaisquer olhos. Prá dentro de casa dançar, a folia dos reis cobrando o tributo. Prá dentro de casa almoçar, que a mãe já chegou de branco. O cheiro de laboratório misturado com o de comida. Ser atropelado na única avenida. Correr com o Kid nos calcanhares. A Joana chamando lá da cozinha. Chorar por não ter madrinha. Saudade irrestaurável dá até prá duvidar, existiu mesmo um lugar como Guiratinga?

2 comentários:

  1. PARABENS PELAS PALAVRAS RODRIGÃO, APESAR DE NÃO SER DE LÁ, VIVI MOMENTOS ÚNICOS NA SUA CIDADE NATAL, GRANDES AMIZADES E HISTÓRIAS PARA CONTAR PARA GERAÇÕES FUTURAS COMO ATÉ UMA FORMAÇÃO DE UMA BANDA QUE SE CHAMAVA OS GRINGOS...ABRAÇOS.

    ResponderExcluir
  2. Noossa!! Os Gringos, quase não lembro disso. Show na sala da casa da tia Ana. Foram ótimos tempos aqueles. Nos divertimos muito. Valeu queridão. Abraço!

    ResponderExcluir