domingo, 21 de julho de 2013

Tarde na estação da chuva


O ar percorre os corredores da casa. Vindo lá de distante o cheiro de terra úmida pega carona na corrente. No quarto uma porta mal trancada sela um caminho, obriga o vento a se virar, assusta o menino que pensa. Pensa com o lápis entre os dedos. Apóia o queixo com as mãos. O chão é gelado, mas é superfície perfeita na estação da chuva. O menino pensa no melhor desenho, sem cor, por que isto é perder tempo, as horas devem ser reservadas ao que importa. A casa está quase vazia e tão vazia que podia se escutar os pensamentos do menino. E lá longe os barulhos do céu. As descargas desfigurando a paisagem. A inspiração é como a tempestade, mas o menino ainda não sabe, ele acha que é o cheiro de chuva e o barulho do vento. Chega a pensar em desistir, ir brincar com os “homenzinhos”, mas a trovoada se aproxima, o galope infernal da natureza. Eis que de repente um traço aqui, as mãos não tremem tanto como hoje, no entanto, a linha ainda é falha. O barulho do toque violento da água sobre as calçadas vem se fazendo da rua de baixo até finalmente alcançar toda a Colina Verde. Mal dá para conversar dentro da casa. O menino não quer conversar. Pensa um pouco mais e vê-se um brilho em seus olhos. Prepara o lápis, observa o quase branco do papel, deixa que todos os elementos se conjuguem, que o cheiro, o sons, o toque, tudo faça parte,toma o impulso derradeiro e no escorregar do lápis é lançado para fora da tempestade.
_ Menino, levanta daí e vá calçar um chinelo, tá relampeando.

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