segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Dia 06 nova publicação

Voltamos a programação normal a partir de janeiro, com novos textos. Dia 06 tem nova publicação.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A vida de Taciana 2

Ás vezes é bailarina, ás vezes branca de neve, mas gosta mesmo é de ser Taciana. Poderia ser Alice, e se perder atrás do coelho, mas seu bichinho é tão pacato, não parece nem um pouco atrasado. Caminhando gordo pelo jardim, na beira da piscina, passando as horas sem pressa. E a menina também, escolhendo quem ser, tranquila, ainda  tem um bom tempo pra se decidir. Muito está fora de cogitação. Caminha de mão dadas à mãe, entra na piscina com o pai. Conta as flores do canteiro, tem vida para se surpreender com a beleza das pequenas coisas. Deixa o tempo passar e mesmo assim ele rasteja, dá-lhe um empurrão mas ele continua seu passo preguiçoso. Não acredita nas desilusões que vai ter, nos amores que perderá. Só pensa que o coelho podia ser mais gentil. Antes pudesse enfeitiça-lo com sua flauta, mas o máximo que consegue é incomodar os vizinhos. Mas ninguém reclama. Devem saber que isto seria por pura inveja do tempo de sobra, de ter um Coelho, uma flauta e uma piscina.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Culpada

Eu não queria? Sabia bem que aquilo não acabaria bem. Uma garota esperta sabe dessas coisas. Nem precisava ter um terceiro olho para isso. Então, como explicar tanta dúvida assim? A princípio era simples: "eu quero" ou "eu não quero". Mas estava ali sem saber. Pra mim seria um momento, e isso era tranquilo, mas pra ele o custo seria mais alto, o significado mais sublime. 

Então... Seria minha dúvida sobre justiça? Seria justo com ele? Se ele ainda fosse tão bonito quanto carinhoso, tão homem quanto amigo... Meu corpo ferveria mais vezes e talvez não houvesse indecisão. Mas ferver uma vez, sentados no sofá é permitido? Lógico. Mas ele entenderia? De todo modo, também não é minha culpa, acho que é por causa da música, do tempo, do carinho... E ele então?! Me levara a uma rua sem saída, eu já era dele naquela altura. Eu já sabia disso. E ele também sabia, por mais ingênuo que fosse. Aquele filha da puta! Isso que dá me deixar verificar como faz um livro. Ele me conhecia. Sim, aquele instante era premeditado. Oras... Então, a escolha foi dele e não minha. Como poderia me culpar?

Passaríamos a vida inteira ali e quem sabe ainda assim não chegaria a uma boa conclusão sobre o assunto. Em busca de algo que me absolvesse encontrei suas mãos. Seu toque na minha perna era prenúncio, era desarme, era a decisão que não pude fazer sozinha. Ninguém mais viu, mas eu resisti. Com forças curtas é verdade.  Ninguém viu, mas eu não queria. Ele não era meu tipo. Ninguém viu quando assim mesmo eu quis, irremediavelmente e de maneira incontestável.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O mistério da marca verde


Um grande mistério está sempre por acontecer em Guiratinga. Naquela tarde fui me ter com um daqueles bem cabeludos. Nada como bons investigadores para revelar o que, por Deus, seria aquela imensa mancha verde, em forma de cabeça, marcada na poltrona do meu pai. Minha mãe, que nada sabia de investigação, foi logo dizendo que era a cabeça do meu pai e a ação do sol, uma antecipação que não levava em conta o fato mais evidente: meu pai não tinha a cabeça verde. Ingenuidade de mãe. O que poderia ser então? Quem poderia ter deixado aquela marca? Possivelmente o culpado seria alguém que se sentou ali e encostou a cabeça no repouso. Coisa fácil de intuir, embora dava para brincar que se tratava de uma grande dedução ala Sherlock Holmes, certos momentos permitem quase qualquer licença poética. Me juntei com meus amigos policiais, tão astutos e comprometidos com a causa quanto eu. Pronto, agora éramos três, imbatíveis como da vez que batemos no grandão da escola (o que se trata de outra história e consta aqui só para preparar terreno para a hora desta). Destemidos e curiosos. Cobrimos cada milímetro da sala que ficava quase no fundo da casa. A tv, a vitrola, o carpet encardido. Os discos do meu pai não pareciam conter nada de estranho, a não ser o disco do Kaoma. Restava  uma vista no entorno da casa, um grande terreno baldio, que entre outras coisas interessantíssimas, estava plantada nossa goiabeira. E lá, a prova que finalmente revelaria o caso. Um ferro entortado. Como não pensamos nisso antes? Ninguém seria capaz de fazer aquilo com pedaço tão servido de metal. Ninguém que tivesse força humana. Então... Cabeça verde, força descomunal... Não havia mais dúvidas, só podia ser o Hulk.