segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O mistério da marca verde


Um grande mistério está sempre por acontecer em Guiratinga. Naquela tarde fui me ter com um daqueles bem cabeludos. Nada como bons investigadores para revelar o que, por Deus, seria aquela imensa mancha verde, em forma de cabeça, marcada na poltrona do meu pai. Minha mãe, que nada sabia de investigação, foi logo dizendo que era a cabeça do meu pai e a ação do sol, uma antecipação que não levava em conta o fato mais evidente: meu pai não tinha a cabeça verde. Ingenuidade de mãe. O que poderia ser então? Quem poderia ter deixado aquela marca? Possivelmente o culpado seria alguém que se sentou ali e encostou a cabeça no repouso. Coisa fácil de intuir, embora dava para brincar que se tratava de uma grande dedução ala Sherlock Holmes, certos momentos permitem quase qualquer licença poética. Me juntei com meus amigos policiais, tão astutos e comprometidos com a causa quanto eu. Pronto, agora éramos três, imbatíveis como da vez que batemos no grandão da escola (o que se trata de outra história e consta aqui só para preparar terreno para a hora desta). Destemidos e curiosos. Cobrimos cada milímetro da sala que ficava quase no fundo da casa. A tv, a vitrola, o carpet encardido. Os discos do meu pai não pareciam conter nada de estranho, a não ser o disco do Kaoma. Restava  uma vista no entorno da casa, um grande terreno baldio, que entre outras coisas interessantíssimas, estava plantada nossa goiabeira. E lá, a prova que finalmente revelaria o caso. Um ferro entortado. Como não pensamos nisso antes? Ninguém seria capaz de fazer aquilo com pedaço tão servido de metal. Ninguém que tivesse força humana. Então... Cabeça verde, força descomunal... Não havia mais dúvidas, só podia ser o Hulk.

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