terça-feira, 28 de julho de 2015

Sobre o "Orgulho de ser CIC"



Prólogo
 
*A Cidade Industrial de Curitiba (CIC) é o maior bairro da capital paranaense em número de população. Inicia sua história nos anos 70, com a destinação de seu território para a construção de um distrito industrial no município.  Atualmente ainda possui muitas regiões não regularizadas, resultado de ocupações e recebe com frequência, projetos de relocação. Neste território está um dos primeiros projetos de moradia popular do Brasil, a Vila Nossa Senhora da Luz.
Recentemente a Administração Regional da CIC, estrutura responsável por organizar as políticas municipais na região, lançou uma “campanha” chamada Orgulho de ser CIC, a qual a repercussão em meu próprio modo de ver o território teve como consequência o texto que se segue.



Sobre o orgulho de ser CIC


Trabalho numa região conhecida por ser um lugar a se evitar, por suas péssimas condições de vida, pelos diversos bolsões de pobreza em sua extensão. Como não é de se estranhar, sendo um local no qual as condições sociais são precárias, também está aqui um dos maiores índices de violência... Por que teríamos orgulho de ser CIC?
É evidente que não é a toa as representações negativas ligadas a esse território, mas como se desencadeia uma mudança? Com políticas voltadas à população: de educação, moradia, saúde, trabalho, cultura... Entretanto, nesse caminho, já difícil o bastante, eis que nos deparamos com um obstáculo que vem a se somar com todos os outros: a exclusão social veiculada através da palavra, do nome, CIC. Como se esse fosse um sinônimo de algo necessariamente ruim, naturalmente horrível, ao ponto de uma pessoa ligada a essa palavra adquirir por proximidade cada um desses adjetivos. Exemplifica essa constatação alguns fatos: pouquíssimo dos trabalhadores das empresas da CIC são moradores do território; há uma intensa rejeição de trabalhadores/servidores a trabalharem na região; são inúmeros os relatos de cidadãos que foram discriminados ao se declararem moradores da CIC; é muito freqüente que moradores de áreas da CIC mais próximas de outros bairros, assumam a região vizinha como denominação de seu território. Enfim, ao que tudo indica ser CIC não costuma ser orgulho para essas pessoas. E é por isso mesmo que afirmá-lo comporta uma dimensão radical, ou melhor radicalizante, revolucionária, por que não.
O orgulho de ser CIC é uma oposição ao que está constituído como tal, é um não a criminalização da pobreza, um não a discriminação que apenas serve para a manutenção do status quo. Dizer que há um orgulho em ser CIC é fazer um voto a uma nova CIC, superando a fuga como única esperança, e assumindo o comprometimento com a transformação, sem jamais negar os problemas que se multiplicam nessa região.
É por tudo isso que a mudança da CIC, que obviamente depende de uma alteração material de suas condições, também precisa ser acompanhada de uma nova postura em relação ao território que também é parte do que somos, seja como morador, seja como trabalhador. É nessa perspectiva, por reconhecer a força das pessoas que aqui estão e a energia transformadora que emana das construções simbólicas como essa, pelo respeito às histórias que ouvimos e por ser parte disso, que só posso afirmar que sou um daqueles que tem orgulho de ser CIC.
Que seja um convite aos moradores, trabalhadores, servidores, donos de empresa, para que experimentem esse sentimento e apostem na transformação. E se algo do que foi dito aqui servir para outros territórios que, por favor, se sirvam.